23 novembro 2012

«Com ou sem Messi, vamos a Barcelona para ganhar»


Foram estas as palavras com que o técnico encarnado abordou o tema Barcelona, na conferência de imprensa após o encontro frente ao Celtic. Várias questões necessitam de serem feitas, entre as quais...


... porque é que não teve a mesma atitude e discurso aquando da jornada em que o Benfica recebeu o Barcelona na Luz?
Dizia o Jesus na conferência de imprensa após o jogo do Celtic sobre como jogaria frente ao Barcelona:
«Como vamos apresentar-nos em Barcelona? Com a mesma postura de sempre, não vamos mudar nada. Temos mais do que uma ideia de jogo, que temos vindo a adquirir com o trabalho ao longo dos anos, e não vamos mudar.»
Agora, face a isso, porque é que o Jesus mudou tudo no jogo caseiro frente ao Barcelona? Será que foi necessário sentir a passagem desta fase de grupos em risco para poder perder o "medo" do Barcelona? Ou será que as exibições do Celtic frente ao colosso catalão, fizeram repensar Jesus no que ao que toca à "equipa de outro mundo"?

A imagem que fica, mesmo melhorando o discurso, é que "tarde piou" o Jesus. Penso que se tivesse tido este comportamento no jogo caseiro frente à equipa de Tito Vilanova, e apresentado em campo uma equipa encarnada mais de acordo com os seus princípios de jogo habituais, ao invés de uma equipa muito envergonhada e encolhida na sua defesa, mesmo com um mal resultado, legitimaria e traria uma confiança acrescida para esta situação. Como irá o Jesus conseguir transmitir uma mentalidade vencedora se muito provavelmente na cabeça dos jogadores está o descalabro na Luz frente a este mesmo adversário? Trata-se pois, claramente de uma grande tarefa de Jesus, não só pelo valor do adversário, mas pelo "handicap" que criou a si próprio no jogo da primeira volta.

... como poderá o Benfica contrariar o Barcelona em casa?
Sabendo que Jesus pensa o seguinte do Barcelona, do Messi e da mentalização do Benfica para esse jogo:
«O Barcelona é a melhor equipa do Mundo. É verdade que há um jogador [Lionel Messi, n.d.r.] que faz a diferença e, sem ele, o Barcelona não é tão forte. Não sei ele se vai ou não jogar, mas, com ou sem Messi, vamos mentalizados para ganhar.»
Faz todo o sentido tentar perceber como o Benfica irá conseguir um bom resultado em Camp Nou com as armas que possuímos. Notar que um bom resultado será fazer melhor ou igual resultado que o Celtic fizer no seu jogo frente ao Spartak.

Curiosidade para saber se Messi será
poupado no jogo frente ao Benfica e
se Aimar já estará recuperado para
esse encontro.
Olhando para a equipa do Barcelona, vemos uma equipa no qual os jogadores estão devidamente bem identificados com o seu estilo de jogo. É um estilo de jogo que visa a posse de bola, com as linhas entre os jogadores bem curtas, ou seja, a equipa encontra-se compacta sobre o terreno de jogo, e que faz da sua superior troca de bola e paciência as maiores armas para encontrar espaços na defesa adversária. Jogando com avançados escondidos como extremos, com laterais muito ofensivos, e com um "ponta-de-lança" chamado Messi que raramente joga em cunha com os centrais, mas que aparece sempre no meio deles para finalizar de trás para a frente, a verdade é que o Barcelona consegue colocar muita gente em posições de finalização.

O meio-campo do Barcelona é formado por três jogadores no papel: um médio defensivo, Busquets, e dois médios interiores, Xavi e Iniesta ou Fàbregas. São estes os principais titulares. Contudo, a meu ver, Messi acaba por funcionar como um 4º médio nesse meio-campo, tal é o tempo em que ele passa naquelas zonas do terreno. Sendo assim, aquele meio-campo funciona como uma mini equipa de futsal dentro de uma equipa de futebol de onze. Nessa linguagem de futsal, o Busquets pode ser considerado um fixo, enquanto o Iniesta e Xavi serão os alas e o Messi o pivot. Se repararem bem nas movimentações em carrossel destes 4, perceberão que a semelhança com o futsal até é bastante plausível.

Para além de um excelente naipe de
jogadores, o Barcelona é uma equipa
em todos os sentidos, daí ser muito
difícil batê-los, mesmo quando não
jogam alguns dos seus mais
importantes jogadores.
Ora são estes 4 jogadores nucleares que formam o motor de jogo do Barcelona. Os avançados escondidos de extremos, conferem ao Barça as movimentações de criação de espaço, a velocidade e a objectividade ao jogo ofensivo do Barcelona, auxiliando não só o "pivot" Messi, mas também os "alas" Xavi e Iniesta. São eles o Pedro e o Villa, ou o Alexis Sánchez. Os laterais catalães, nomeadamente o Dani Alves e o Jordi Alba, conferem à equipa verticalidade e profundidade sobre as alas. Basicamente, são estes os maiores responsáveis pelos cruzamentos para a pequena área. Combinam praticamente com todos os seus colegas de equipa desde os centrais até aos avançados, passando pelo quarteto nuclear do Barcelona. Adriano é normalmente o substituto para as laterais. Em termos defensivos, os centrais têm um papel fundamental em conjunto com o "fixo" Busquets ou Song. Jogam sempre muito próximos deste, jogando assim com a regra do fora-de-jogo, desenhando a linha muito próxima do meio-campo. Como tal, são ambos jogadores que tenham de ter algum trato com a bola, para logo a seguir a uma recuperação, terem capacidade para construir jogo. Daí que jogadores como Piqué e Mascherano sejam actualmente os habituais titulares e com Puyol o habitual substituo. Na baliza, Valdés é o guarda-redes líbero, que para além de ter responsabilidade para ajudar a anular qualquer bola que o adversário meta nas costas da linha defensiva, também é muitas vezes responsável pela construção de jogo, sobretudo, quando a equipa é pressionada defensivamente.

Fàbregas é uma clara hipótese de vir
a substituir Messi na sua posição,
caso o astro argentino não jogue
frente ao Benfica.
Na possibilidade de Messi não jogar de início, penso que a titularidade nessa posição irá recair sobre Fàbregas. Recordar que essa situação já aconteceu esta temporada, num jogo para a taça do Rei de Espanha e com excelentes resultados. No entanto, outras opções podem ser tido em conta, nomeadamente fazer jogar o Villa numa posição mais central no terreno e colocar o Sánchez em campo. A meu ver, beneficiaria imenso ao Benfica esta última opção, uma vez que Villa não teria tanta tendência para formar o tal "quarteto mágico" que é o motor de jogo do Barcelona. Isto facilitaria imenso o trabalho defensivo do Benfica.

Do ponto de vista encarnado, e em termos estratégicos, será muito importante o Benfica conseguir controlar o jogo quer seja com ou sem bola. Por controlar o jogo, entende-se também controlar o marcador de tal forma que não sofra golos. Em termos tácticos, penso que jogando no habitual 4-4-2 (que na prática é um 4-2-4, ou mesmo um 4-1-1-4), tal controlo não será possível, até porque o jogo é fora de casa e o Barcelona é a equipa que é. Assim sendo, um maior reforço do meio-campo e uma frente de ataque móvel penso que é necessário. Talvez a opção seria adaptar um 4-2-3-1, em que um dos médios-ala fosse um segundo avançado disfarçado de extremo. Só numa altura mais perto do final do jogo e mediante do resultado, é que optaria por uma solução de maior risco.

Quanto a mim, Lima é o avançado
mais completo que temos no plantel
e como tal deverá ser o titular frente
ao Barcelona.
Outra questão que deveríamos equacionar é até que ponto deverá ser o Cardozo o ponta-de-lança titular frente ao Barcelona em Camp Nou. Será que há mais vantagem em ter um jogador que ganhe bolas aéreas aos centrais catalães e que consiga temporizar a posse de bola, ou um jogador que saiba aproveitar o espaço nas costas da defesa? A meu ver, penso que o ideal seria um avançado completo e nesse caso acho que o mais completo que temos neste momento é o brasileiro Lima.

Muito trabalho terá o Jorge Jesus nas próximas semanas, não só na mentalização da equipa, mas também a nível táctico e de estratégia de jogo. Muita curiosidade para ver como irá jogar o Benfica!

Que no final Jesus possa fazer jus à alcunha de "Mestre da Táctica".

7 comentários:

  1. em primeirolugar parabéns: um post como estedá muito trabalho.

    dito isto, se o SLB tivesse ganho ao Barcelona da mesma forma que o Celtic, não faltaria a critica ao JJ... que jogou com autocarro, era uma vergonha, etc....

    O SLB por muito grande que seja e E´ está longe do Barça.

    temos que aceitar
    ganhar uma vez pode acontecer, porque falamos de futebol.

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    1. Caro Anónimo,

      O Benfica jogou em Lisboa como o Celtic jogou frente ao Barcelona. A diferença é que esse é o estilo de jogo do Celtic, daí que a equipa escocesa sentiu-se relativamente à vontade com o estilo de jogo directo e de retranca e nós não.

      Tivéssemos sido mais iguais aos nossos princípios de jogo e talvez uma exibição mais colorida tivéssemos apresentado nesse jogo. Decerto que a maioria não iria criticar a equipa e o Jesus por isso. Muito pelo contrário.

      O Benfica não está longe de ser como o Barcelona. Só depende de si próprio para o ser. Precisa de competência e muito trabalho para atingir esse nível, mas é possível. Em termos de matéria-prima, i.e., jogadores, ainda esta semana a ver outros jogos da Liga dos Campeões, deparei-me com um Ramires e David Luiz num Chelsea e um Fábio Coentrão e um Di Maria num Real Madrid. Todos eles titulares nessas equipas, todos eles ex-jogadores encarnados... dá que pensar, não dá?!

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    2. penso que tem a ver com euros.
      mas, mesmo com os mesmos euros, preferem jogar nesses clubes, nomeadamente nesses paises.

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    3. Anónimo,

      Euros vêm com vitórias, reputação e nome vêm com vitórias, grandes jogadores gostam de jogar em equipas vitoriosas... o Benfica pode muito bem estar numa fase em que precisa de ser mais lucrativo no que toca à exportação de talentos. No entanto, esta fase deve ser para o Benfica poder crescer e tornar-se auto-suficiente financeiramente de tal modo que mais tarde possa começar criar equipas para outros voos e com outras figuras de proa.

      Potencial tem-lo! Mesmo num país como o nosso...

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    4. o problema é esse: um país como o nosso ,


      quando fomos bi-campeões europeus e grandes na Europa, o nooso EUSÉBIO, só não emigrou para Itália, porque o poder politico não deixou.

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    5. nem a propósito:
      acabei de ler declarações do David Luiz sobra a trf chelsea.
      como eu digo, estamos num pais como Portugal e isso explica tudo.

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    6. Anónimo,

      O país pode explicar muita coisa, mas não explica tudo. Quem olhar para as ligas espanholas e inglesas nos anos 80, perceberá que naquela altura não vaticinavam o sucesso que hoje têm. Havia tudo por fazer.

      A maioria desses clubes são o que são por uma questão de avultados investimentos nos clubes e porque as respectivas Ligas tiveram visão do mercado global e foram inteligentes em procurar novos clientes além fronteiras. Isto permite que os clubes tenham maiores receitas e com maior notoriedade, organização e dinheiro acabam por atrair grandes jogadores de futebol.

      Eu acredito que o Benfica como força dinamizadora no futebol nacional tem capacidade para crescer muito mais e com isso poderá trazer a reboque todo o futebol português. Aliás, nós próprios temos de assumir essa posição se queremos verdadeiramente ser líderes nacionais.

      Com essa estratégia de crescimento, quem sabe se o futuro "David Luiz" que vier para o Benfica, numa altura em que tenha um convite de outro clube de outra liga recusará por se sentir a jogar verdadeiramente no melhor clube do mundo e numa liga excelente?

      Eu acredito muito no potencial do Benfica e do futebol Português... pena é alguns interesses individuais que impedem que o futebol cresça de forma mais sustentada!

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