28 dezembro 2012

A segunda linha: Parte II


Na primeira parte fora abordado este tema da segunda linha do Benfica, tendo sido identificado alguns dos seus problemas. Nesta segunda parte, pretende-se contribuir com possíveis soluções a esses problemas. O objectivo é abrir espaço a debate desta temática, muitas vezes esquecida, mas cada vez mais importante para uma equipa de topo.


Possíveis soluções da segunda-linha
Todas as soluções passarão por muito trabalho de treino diário, mas também de ir dando ritmo de jogo a todos os jogadores, para que estejam fisicamente aptos mas também auto-confiantes sempre que forem chamados a entrar em campo. Contudo, consigo identificar três tipos de soluções.

Primeira Solução
Primeira solução para a segunda-equipa.
Esta solução é aquela que menos alterações faz no onze de reservas, como podemos ver na figura ao lado. O onze titular mantém-se igual ao mostrado na parte I do artigo. Aqui, o problema da centralização do jogo é resolvido alterando a posição de alguns jogadores, mas sobretudo atribuindo novas tarefas a muitos deles. Em primeiro lugar, Nico e Bruno César trocariam de posição. Penso que o brasileiro tem melhor índices de finalização e remate que o argentino, que por sua vez é um ás no um-contra-um. Assim sendo, se camisola 8 jogar mais próximo da baliza adversária, mais chances tem de marcar. Da mesma medida, o camisola 20 jogando entre-linhas e partindo da direita para o centro, poderá driblar os adversários.

Contudo, esta alteração de posição não basta! É preciso distribuir as tarefas de forma diferente. Tanto Nico como Nolito deverão ser os responsáveis pela criação das jogadas ofensivas, devidamente apoiados por um dos médio-centro (preferencialmente por Carlos Martins) e de um dos avançados móveis (preferencialmente por Bruno César). Estes avançados móveis deverão procurar sempre desmarcações nas costas dos defesas adversários ou procurar tabelar com os falsos extremos nos seus movimentos interiores. Ao contrário dos avançados da equipa titular estes deverão ser bem mais móveis e procurar espaços nas alas quando necessário. Neste contexto, penso que tanto Rodrigo como Bruno César não terão dificuldades de efectuar estas missões. Com isto, Nolito e Nico terão todo o espaço entre-linhas para jogar e criar as jogadas de perigo da sua equipa. Um pouco à imagem do que David Silva e Nasri fazem pelo campeão inglês Manchester City.

Já o problema da falta de profundidade do lateral direito poderá ser resolvido das duas uma: ou o André Almeida consegue desempenhar essas funções (ele tem vindo a melhorar), ou então aposta-se no jovem João Cancelo (assumindo todo o risco que isso acarreta). A opção pelo Cancelo parece-me a mais natural dado o ADN do jovem encarnado. Contudo, também poderemos estar a queimar um jogador se não for bem lançado. E, para além disso, André Almeida também tem a sua margem de evolução nessa posição.

Se é verdade que há poucas ou quase nenhumas alterações aos onzes, em termos de dinâmicas a serem ensaiadas nos treinos, esta solução acaba por ser muito trabalhosa para a equipa técnica, uma vez que os exercícios com movimentos padrão são distintos da equipa principal para a de reservas.

Segunda Solução
A solução número 2, já pressupõe algumas alterações tanto no onze dos titulares como no dos suplentes. Há essa necessidade para adaptar o mesmo estilo e dinâmicas de jogo às duas equipas. Isso facilitará imenso o trabalho diário que os treinadores teriam com os atletas, não havendo diferenciação de treinos e todo o tempo e recursos que acarretam. Por outro lado, promoveria ainda mais uma competição saudável entre jogadores para a mesma função e estes saberiam quais seriam as suas reais funções. Notar, que actualmente há treino de preparação para os jogos, mas jogadores como Bruno César e Nico, que basicamente são bombeiros para várias posições, acabam por nunca se fixarem num lugar, o que para eles acaba por ser difícil nesta fase de pouco ritmo de jogo e alguma falta de confiança. É óbvio, que os jogadores são diferentes, e não é de todo que se queira que a segunda linha seja uma espécie de "clone" da equipa titular. No entanto, mesmo sendo diferentes, cada jogador tem a sua zona de conforto preferencial que acaba por definir a posição em campo onde ele mais rende.

Onze titular desta solução 2.
Tendo em conta estes pressupostos, proponho uma espécie de 4-4-2, que se transforma em 4-2-4, tal e qual a táctica actual encarnada, mas com uma dinâmica distinta da actual. Essa diferenciação é demarcada por uma assimetria dinâmica entre o lado esquerdo e o direito. Olhando para ambos os onzes titular e reserva (ver figuras), nota-se claramente uma diferença entre os movimentos tipo dos homens que compõem os corredores.

Do lado direito, Maxi Pereira e Salvio foram escolhidos como os titulares, enquanto André Almeida e Ola John foram escolhidos como os seus substitutos. Aqui a missão do lateral direito é mais conservadora e não é tanto de dar profundidade à equipa com movimentos verticais pela linha, mas sim de procurar quanto em quanto os movimentos interiores de apoio aos médios e até fazer incursões à grande área com esses movimentos em diagonal, um pouco como Maxi muitas vezes faz. Notar que isso até vai mais de encontro com as características do Maxi e do André Almeida, que não possuem muita qualidade no cruzamento, entre outras características técnicas e físicas. A missão de dar profundidade e verticalidade à ala direita caberá aos médios-ala/extremos direitos Salvio e Ola John, que deverão procurar a linha de fundo com o intuito de solicitar a assistência para os avançados e médios-ofensivos na grande área. O argentino e o holandês já demonstraram qualidades neste capítulo e quer jogue um ou outro, teria sempre muita confiança. Com esta dinâmica, o Benfica só tem a ganhar, pois não só respeita as características dos seus jogadores, como também acaba por criar uma sinergia que permite uma poupança no desgaste físico dos seus atletas. Por exemplo, Salvio e Ola, com laterais mais conservadores atrás, não têm que se desgastar tanto em tarefas defensivas. Por outro lado, sem saídas para o ataque loucas, tanto Maxi como André Almeida raramente deixarão as costas desguarnecidas.

Onze substituto desta solução 2.
No corredor esquerdo, os titulares escolhidos são Melgarejo e Nolito. Os reservas escolhidos são Luisinho e Miguel Rosa. Nesta ala, as funções de dar profundidade e verticalidade é concedida ao lateral esquerdo. Notar, que para essa liberdade muito conta a missão do lateral direito descrita acima, pois em termos defensivos, ficaríamos sempre com 3 a 4 homens (se contarmos com o médio defensivo) na linha defensiva. Por outro lado, Melgarejo e Luisinho têm características de extremos "puros", pois são jogadores velozes e com excelente capacidade de passe ao nível do cruzamento. Como não são tão fortes em termos defensivos, a estratégia acaba-se por adequar perfeitamente. À frente do lateral esquerdo, estará o falso médio-ala/extremo esquerdo, como são Nolito e Miguel Rosa. Notar que tanto o espanhol como o português acabam por ter estilos de jogo idênticos, se bem que o jovem capitão da equipa B encarnada, possui maior polivalência. São extremos "falsos" porque sendo jogadores de pé direito a jogar na esquerda tenderão sempre a procurar movimentos interiores, tentando combinar com os médios e avançados, mas também libertando a faixa esquerda para os laterais poderem subir no terreno ou um dos avançados poder surgir.

A propósito de falar em avançados, se no corredor central, tanto as dinâmicas com os centrais e médio-centro não precisam de grandes afinações, o mesmo não se poderá falar da dupla atacante. Esta terá que funcionar de forma algo diferente da actual. Neste momento, tanto o Cardozo como o Lima são avançados que procuram fazer movimentos no corredor central. O que se propõe nesta solução é que um dos avançados seja mais fixo ao corredor central, enquanto outro seja mais móvel e consiga cair nas alas, sempre que necessário. Por avançado mais fixo, não se subentende que seja um jogador que fique encostado sobre os centrais adversários. Pretende-se sim, que seja um jogador que procure movimentar-se no corredor central, ora descendo, ora avançando. Este terá que ser o primeiro apoio que o extremo direito vê à sua frente, procurando combinar com este, numa primeira fase e depois procurar posições de finalização quando o extremo chega à linha para cruzar. Já o avançado móvel, deverá procurar aproveitar os espaços criados nas movimentações interiores dos "falsos" extremos esquerdos iludindo assim foras-de-jogo do adversário, mas também aproveitando os espaços entre os laterais e centrais, que se criam. Por estes motivos, na equipa titular, escolheu-se a dupla entre o Cardozo e Rodrigo, enquanto na equipa de reservas optou-se por Lima (ou Kardec) e Bruno César (ou Nico Gaitán). Notar que Lima é um avançado completo e capaz de desempenhar as funções de avançado móvel. No entanto, prefiro que esse avançado seja um canhoto pois tenderá procurar espaços onde possa utilizar a sua velocidade e o seu pé preferido, ou seja, na faixa esquerda, aproveitando o espaço aí criado pelos "falsos" extremos esquerdos.

Por outro lado, é bem mais fácil incluir um miúdo como o Rodrigo numa equipa mais experiente como a titular do que numa equipa com vários jovens. Aliás, este também foi um factor ponderado aquando da construção dos respectivos onzes. Notar que no quarteto ofensivo do onze titular temos como elementos mais experientes o Cardozo e o Nolito, e como elementos mais novos o Salvio e o Rodrigo, já no onze reservista temos também Lima e Bruno César (ou Nico Gaitán) como mais experientes, e Ola John e Miguel Rosa como os novatos.


Terceira Solução
Onze titular desta solução 3.
Uma terceira solução que permite uma simplificação dos processos de treino, mas também uma diferenciação entre dinâmicas da equipa principal e da substituta, é igualmente possível. Para isso, basta que o onze titular seja simétrico ao onze reservista.

Conforme poderemos verificar pelas figuras, o onze titular promove a profundidade pelo lado direito e esquerdo através do extremo direito e do lateral esquerdo, respectivamente. Por seu turno, o onze reservista, promove as alas direita e esquerda através do seu lateral direito e extremo esquerdo, respectivamente. Por esse motivo, em termos das laterais, aposta-se em Melgarejo como lateral ofensivo e em Luisinho como lateral mais defensivo. A bem da verdade ambos têm vocação ofensiva, conforme já mencionou-se atrás. Contudo, o português tem mais experiência e defende melhor que o paraguaio. Do lado contrário, o mesmo raciocínio é aplicado a André Almeida e Maxi Pereira. Quanto aos extremos, na ala direita, Salvio é o extremo puro titular, enquanto na estratégia reservista, essa posição é já ocupada por um "falso" extremo direito, como o Bruno César. Por seu turno, na ala esquerda, enquanto Ola John ou Nolito (ou até mesmo Miguel Rosa) são o "falso" extremo esquerdo, na equipa de reservas, a posição de extremo esquerdo caberá ao Nico Gaitán, cujas funções são distintas.

Onze substituto desta solução 3.
O mesmo acontece com a dupla atacante. Enquanto Cardozo e Rodrigo formam a dupla atacante titular, com a dinâmica mencionada na segunda solução, Nolito (ou Kardec) e Lima formam a dupla atacante reservista.

Conforme se verifica nas figuras, a dinâmica de Maxi Pereira e Salvio na ala direita titular só é equiparável à de Melgarejo e Nico Gaitán na equipa de reservas. O mesmo acontece para André Almeida e Bruno César na ala direita da equipa de reservas e para Luisinho e Ola John (ou Nolito, ou Miguel Rosa) na ala esquerda da equipa titular. Já agora, no ataque, Cardozo e Nolito (ou Kardec) terão o mesmo tipo de funções em campo, tentando ser mais fixos no sector central, mas participando no processo de construção. Por seu turno, Rodrigo e Lima terão como missão aproveitar os espaços criados nas costas da defesa adversária, sobretudo, junto ao lateral que é arrastado com os movimentos dos "falsos" extremos.


Outras questões
Haverá com certeza outras opções, mas penso que todas elas acabarão por recair um pouco no modelo da primeira solução, ou seja, gerindo a equipa no que toca aos jogadores em melhor forma os que estão em situações de castigo ou de lesão. Na realidade, o facto de existir mais soluções que aquelas apresentadas, só atesta a qualidade do actual plantel encarnado. Quais seriam as vossas soluções?

Poderá haver jogadores que não estarão no topo das preferências dos adeptos, ora porque não estão a jogar bem, ora porque desde sempre não seriam as opções que os adeptos teriam contratado. No entanto, o Benfica contratou-os e como tal deve fazer de tudo para potenciar e valorizar esses jogadores. Só temos a ganhar com isso, quer desportivamente, quer financeiramente. Por esse motivo, acredito muito no valor de jogadores como Bruno César, Nolito e Nico Gaitán, talvez os jogadores que mais falta faz este tipo de soluções para a segunda linha. Não acham que estes três merecem outro cuidado e atenção?

Por outro lado, uma segunda linha bem estruturada, permitirá uma melhor adaptação de jogadores da equipa B. Se André Almeida e André Gomes são dois casos de sucesso, antevejo que os jovens canterados João Cancelo, Leandro Pimenta e Miguel Rosa poderão muito bem serem os senhores que se seguem. Não seria uma boa solução evitando que o Benfica tenha de ir ao mercado?

Com a recuperação de Pablo Aimar, temos mais uma solução para o meio-campo e a posição de segundo avançado. Até que ponto é que o astro argentino irá revolucionar a estratégia táctica do onze encarnado?

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