23 dezembro 2012

O sub-rendimento...


... de Bruno César, de Nico e de Nolito tem muito que se lhe diga...


J.J. pode fazer mais por
Bruno César, Nico e Nolito.
«Os jogadores têm de saber aproveitar as oportunidades»
Foi com esta afirmação que Jesus falou após o encontro com o Olhanense. Se é verdade que os jogadores menos utilizados têm de se esforçar ao máximo para conseguirem garantir os seus espaços na equipa, também não é menos verdade que o técnico encarnado deva saber dar-lhes condições para que eles se exibem no seu potencial máximo. Será que Jorge Jesus tem dado essas condições para esses jogadores? Olhando para os casos de Bruno César, Nolito, e Nico Gaitán, eu penso que não!


O que é que Bruno César, Nolito e Nico têm em comum?
São os três vítimas de um sistema de jogo que não os beneficia as suas características quer do ponto de vista táctico, quer do ponto de vista das características dos companheiros de equipa.

Estratégia atacante dos titulares frente ao
Olhanense a contar para a taça da liga.
Tacticamente, todos eles jogam fundamentalmente como "falsos" médios-alas/extremos. Ou seja, um ala cujo pé preferencial é o oposto ao flanco em que joga. Por outras palavras, um ala direito que utilize pé esquerdo e vice-versa. O Benfica ora joga com dois avançados (um deles mais de referência - Cardozo - e outro com funções mais de ligação do meio-campo ao ataque - Lima, Rodrigo e, mais recentemente, Gaitán), num 4-4-2 que se transforma em 4-2-4 muitas vezes, ora joga com um médio-ofensivo atrás do ponta-de-lança (Aimar, Bruno César, Carlos Martins e, mais recentemente, Gaitán, jogam na posição de "10"), num 4-2-3-1 que se transforma num 4-3-3 e num 4-4-2, tal o recuo e avanço do "10" no terreno. Tanto uma estratégia como outra, fazem com que o nosso jogo ofensivo se afunile em demasia. Isto significa, que o sector intermediário fica muito congestionado e os jogadores tendem a fazer os tais "rodriguinhos" sem grande objectividade. O resultado é que facilitam o jogo defensivo do adversário, que sem desmarcações nas suas costas, dada as características dos nossos avançados e da estratégia (o Lima e o Rodrigo até poderiam explorar as costas, mas estão encarregues de ligar o jogo entre-linhas), acabam por nunca explorar esse tipo de jogo. Reparar que ainda no último encontro frente ao Olhanense, tal estratégia foi verificada, como podemos ver na figura ao lado, representativa do ataque encarnado. Nesta figura também podemos verificar que se um dos nossos médios-centros tiver liberdade para atacar (como de facto tem!), a zona central, representada pelo rectângulo, fica ainda mais congestionada.

Estratégia atacante dos habituais titulares.
Chama-se a atenção ao leitor para a diferença que é em ter Salvio, Ola John no actual modelo de jogo encarnado, por oposição a Nolito, Bruno César e Nico, neste último encontro. De facto, os primeiros têm uma forma de jogar muito mais vertical do que os segundos e isso deve-se às suas características enquanto jogadores. Essa forma de jogar, vai mais ao encontro das características de movimentos que os nossos avançados e meio-campo ofensivo gosta de fazer, conforme podemos ver na figura ao lado. Por este motivo acho injusto muitas das críticas que estes três jogadores recebem. Estou convicto que se trabalhassem melhor o modelo de jogo e estratégia com estes jogadores de segundo plano, os resultados seriam completamente diferentes para melhor. Nico, Nolito e Bruno César já demonstraram, com águia ao peito, que tinham qualidade para dar e vender. Cabe então ao técnico encarnado saber aproveitar esses talentos. Já agora, uma última observação ao modelo titular na figura referida. Aqui podemos verificar que na estratégia de Jorge Jesus, o Cardozo era o elemento mais fixo no ataque. Contudo, apenas Lima e Enzo a tentarem combinar no interior é muito pouco, pelo que recentemente também Cardozo faz essas funções. O segredo está em que esses jogadores quando entram na caixa central acabam por ter Salvio e Ola John como opções de passe e a atacarem espaços vazios, através de desmarcações. Enquanto com jogadores como Nolito, Bruno César e Nico, a tendência seria concentrarem-se no centro do terreno, conforme foi referido acima.


Como poderá o Jesus retirar rendimento destes três?
Em primeiro lugar, o Jesus não poderá continuar a fazê-los jogar numa posição diferente em cada jogo. É necessário dar-lhes rotinas em determinadas funções, para que eles consigam adaptarem-se. Por exemplo, Nico e Bruno César não podem fazer um jogo a extremo direito e logo a seguir a médio-centro ou atacante. Assim nunca conseguirão assentar jogo e continuarão a serem bastante irregulares aos olhos do comum adepto, facto que lhes poderá afectar as suas auto-confianças. Por outro lado, o técnico encarnado não poderá fazer aquilo que tem feito ao Nolito, por exemplo. Ou seja, não deverá dar-lhe jogo hoje e depois só daqui a umas duas semanas. Assim, o atleta nunca conseguirá ter o ritmo competitivo suficiente.

Nolito e Bruno César como falsos extremos e
Rodrigo e Lima como avançados móveis, ao
estilo do Manchester City.
Em segundo lugar, "Jota-Jota" tem de adaptar melhor o modelo de jogo a esta sua segunda linha. Em termos tácticos, o técnico encarnado, não deverá optar por um claro 4-2-3-1, quando pretende jogar com falsos alas, como Nolito, Bruno César ou Nico. Até se percebe o que Jesus pretende: com o movimento dos alas para zonas interiores, libertam os corredores para os laterais ofensivos poderem subir no terreno. No entanto, na prática, acontece que os laterais demoram o seu tempo a subir, e por outro lado, os nossos atacantes ao deixarem-se à marcação acabam por estorvar no jogo interior e não ajudam a encontrar soluções para os falsos alas. Por estes motivos, mais do que jogar em 4-4-2, com dois avançados, é preciso ter muita atenção às características desses avançados que utilizarmos. É necessário jogar com dois avançados móveis que saibam recuar se necessário, mas sobretudo saibam aproveitar os espaços nas costas da defesa adversária, através de desmarcações em diagonais, em particular entre o defesa central e o lateral adversário. Um bom exemplo, desta estratégia é o do Manchester City com David Silva e Nasri nas alas direita e esquerda, respectivamente, e com Agüero e Tèvez no ataque. No Benfica seria, Nolito sobre a esquerda, Bruno César (ou Nico) sobre a direita e com Rodrigo e Lima no ataque, procurando desenvolver a dinâmica explicada anteriormente.

Em terceiro lugar, há várias soluções para além da referida anteriormente, e para as quais este trio de jogadores poderão render desportivamente. Precisam é de serem bem trabalhadas nos treinos. Nico Gaitán, pode inclusive jogar no onze titular como um extremo esquerdo. É o único jogador no plantel que sendo canhoto, tem velocidade, drible e técnica suficiente para jogar a extremo esquerdo "puro". Para além disso, o jogo frente ao Olhanense, deixou boas indicações jogando a "10", embora, penso que ele rende numa posição onde possa explorar a sua velocidade e técnica. Por exemplo, gostaria de vê-lo a fazer dupla atacante com outro avançado e com funções menos criativas e mais de apoio. Quanto ao Nolito e Bruno César, também penso que poderão render jogando em dupla com outro avançado na frente de ataque. Em particular, vejo no brasileiro algo de Tèvez, não só devido às parecências físicas de ambos, mas sobretudo, à capacidade finalizadora do Bruno e ao seu pedigree de número 10. Já o Nolito vejo muito de David Villa. Escrito isto, acho que é verdadeiramente importante que o Jesus saiba combinar bem estes jogadores com outros que possam beneficiar muito deles e que por outro lado saibam retribuir. Por exemplo, o espanhol Nolito acaba por ter a vida facilitada, quando à sua frente joga um Rodrigo com instruções para desmarcar para a ala esquerda, do que um Cardozo com instruções para ficar quieto no centro da defesa. É que o primeiro acaba por aproveitar o espaço que o espanhol cria ao movimentar-se para a esquerda, para além de criar uma linha de passe. Já o segundo, é um convite para o adversário antecipar-se à jogada.

1 comentário:

  1. Sugiro a sua contratação, imediata, para treinador do Benfica.

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