25 outubro 2014

El Clásico


Grande jogo do ponto de vista táctico, técnico e físico. Muita intensidade e muitíssima qualidade dos executantes.

Na antevisão ao clássico do futebol espanhol, o canal desportivo Sky Sports, fez uma leitura (quase) perfeita daquilo que poderia acontecer. É verdade que não acertaram completamente no onze catalão, mas mesmo assim acertaram em quase tudo o que foi visto no encontro.


Os falsos 4-3-3 catalão e 4-4-2 madridista
O Barcelona joga num 4-3-3 falso, porque o Messi acaba por ser um falso 9. I.e., é mais um 4º médio na fase de construção, aparecendo depois na grande área na fase de conclusão. Por outro lado, o Real Madrid joga num falso 4-4-2, pois os seus dois extremos/médios-ala jogam de pé trocado, procurando os espaços internos. É o caso de James Rodriguez e de Isco.


As dinâmicas
O Barcelona é uma equipa talhada para o momento ofensivo. Envolve quase sempre um mínimo de 6 a 7 jogadores no ataque, e num máximo 8 ou 9. Devido ao posicionamento muito ofensivo dos seus jogadores no meio-campo adversário, tem como dinâmica defensiva preferida uma reacção à perda de bola muito intensa e rápida. Tal só é possível com as linhas atacantes e defensivas estarem muito próximas, ou seja, a equipa esteja bem compacta. Com tal posicionamento, mesmo que haja a perda de bola por um companheiro de equipa os restantes colegas estão bastante próximos para pressionar e recuperar rapidamente o esférico.

Já a estratégia do Real Madrid foi completamente diferente de outras temporadas. Jogando em casa, e sem poder contar com o galês Gareth Bale, o Real quis mesmo assim assumir o jogo e discutí-lo taco-a-taco com os catalães. Quer fosse em contra-ataque rápido, quer fosse em ataque organizado, a equipa madridista estava preparada, pois tinha jogadores para isso. Kroos é um dos melhores do mundo a lançar o jogo de trás, algo que não seria muito pensável à uns anos atrás quando jogava atrás do ponte-de-lança do Bayern Munique. Modric é um mestre em esconder a bola e encontrar sempre a melhor opção de passe. Depois os extremos Isco e James Rodriguez são tão bons a acelerar o jogo como a adormecê-lo. E, o que dizer de Ronaldo e Benzema? O mais engraçado, é que em termos defensivos estes 6 jogadores formavam um hexágono a meio-campo onde acabavam por cercar os jogadores do Barcelona e assim conseguir recuperar a posse de bola ao triângulo e depois o losango (quando Messi recuava para meio-campo) catalão.


Os laterais
Engraçado como ambas as estratégias de jogo visavam libertar sempre os laterais para os movimentos ofensivos. Engraçado também ver que estes tiveram relativamente mal no jogo. Carvalhal deixou escapar o brasileiro Neymar para fazer o primeiro golo dos blaugrana logo nos primeiros minutos. Mathieu nunca foi o lateral esquerdo que o Barcelona precisava para dar a profundidade necessária à ala esquerda do Barça, atrapalhando-se muitas vezes com a bola. O Dani Alves esteve completamente fora deste encontro - onde está o melhor lateral direito do mundo? E, o Marcelo continua a complicar lances simples. O brasileiro tem sempre de dar mais um toque, ou fazer mais uma finta e quase nunca passa ou cruza em condições para os colegas de equipa. Chega a tornar-se exasperante!


As apostas
Luis Enrique apostou na "forme de bola" de Luis Suarez para dar muito trabalho à defesa do Real Madrid. Contudo, o que vimos foi um uruguaio ainda a encontrar a melhor forma e muito perdido em campo. Talvez, porque o homem que lhe devia fazer a ligação esteve completamente metido no bolso do meio-campo blanco - falo do Messi! Do outro lado do campo, Carlo Ancelotti, continua a apostar em Isco como falso extremo esquerdo e tem ganho completamente essa aposta. Tanto o espanhol como o seu colega do flanco contrário, o colombiano James Rodriguez, estiveram impecáveis em termos defensivos e foi neles a chave do sucesso do Real Madrid neste encontro.


As bolas paradas
Percebo que o Luis Enrique tenha utilizado o francês Mathieu, não só para ser um lateral esquerdo mais posicional, mas também por causa das bolas paradas. O técnico espanhol sabia que o Real Madrid poderia causar-lhe perigo não só pelos contra-ataques rápidos, mas também pelas bolas paradas. (Não sabia que o Real poderia também atacar o Barcelona em posse, mas isso foi algo que aprendeu durante boa parte do encontro...) Com jogadores como Pepe, Ramos, Kroos, Benzema e Cristiano Ronaldo, o Barcelona se jogasse com Alba na esquerda só teria Piqué e Busquets com altura suficiente para ganhar duelos de cabeça. Todos os restantes o máximo que poderiam fazer era importunar os adversários.

É por isso, que foi com alguma naturalidade que o Pepe conseguiu fazer o golo de cabeça num pontapé de canto, na segunda parte do jogo. Isto depois do Real Madrid ter feito o empate num penaltie de Cristiano Ronaldo, após uma jogada de posse de bola envolvendo Isco, Marcelo e Ronaldo. O problema do jogo aéreo e das bolas paradas do Barcelona só pode ser resolvido incorporando jogadores com outra estampa física, ou então sendo realmente muito bons na posse de bola, de tal forma que evitam completamente esse tipo de lances ao adversário, o que é quase impossível. Notar que o modelo de jogo do Barcelona está bem pensado e adaptado ao futebol que existe em Espanha. No país vizinho, a maioria das equipas quando jogam contra as equipas grandes espanholas, ficam lá atrás e apenas contra-atacam. Sendo assim a estratégia de posse e de linhas bem subidas é a mais correcta. Depois a percentagem de concretização por bola parada de canto ou livre, atendendo ao número de oportunidades que têm nesses jogos é realmente muito diminuta. O problema é quando a equipa não é tão forte na recuperação de bola... que é o que acontece quando defronta equipas do nível do Real Madrid.


O melhor jogador em campo
Para mim, o melhor em campo foi o Isco. Quem o viu e quem o vê. Se antes entrava nos lances a medo, a forma como recuperou a bola no lance do terceiro golo é de facto excelente. Aquele cumprimento do técnico italiano diz muito do que o próprio e o jogador têm trabalhado para elevar o nível. O espanhol corria o sério risco de falhar uma carreira num grande espanhol, caso não tivesse como treinador o italiano. É que "Don" Carlo é de facto um excelente treinador e sabe como potenciar todos os seus jogadores. (Lentamente, assim como não quer a coisa, vai fazendo do Ronaldo um dos melhores avançados centro do mundo, mas também vai dando ao Real Madrid um futebol com perfume a classe que sempre o caracterizou...)

Um dos melhores trabalhos como treinador é fazer crescer os seus jogadores.
Isco bem que poderá agradecer a sorte que tem em ser treinado por um
treinador tão conceituado e tão competente como o italiano Carlo Ancelotti.

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