21 dezembro 2014

Como aumentar o controlo do jogo?


Um ensaio sobre como a equipa encarnada poderá melhorar a gestão dos ritmos de jogo.

Os problemas
Ainda no último artigo, sobre a retirada precoce do Glorioso da taça de Portugal - derrota por 1 a 2 frente ao Sporting de Braga na Luz, durante a semana - fiz menção sobre vários pontos que considero que o Benfica tem rapidamente de melhorar se quer sair vitorioso das competições que ainda está inserido. Um dos maiores, prende-se com a incapacidade para gerir os ritmos de jogo. Considero mesmo que esse é o mais central e o responsável por não conseguirmos gerir vantagens sobre alguns adversários.

Actual estratégia da dinâmica das alas.
A meu ver, o problema reside na forma como os elementos que compõem os flancos da equipa estão dispostos nos vários momentos de jogo. Os elementos do corredor central também têm a sua cota parte de responsabilidade, mas dado que a maioria dos desequilíbrios ofensivos e defensivos dos encarnados surgem pelos flancos é importante pensar um pouco mais sobre estes. Regra geral, ambos os laterais e extremos que compõem os flancos são ofensivos. Na direita, o seu lateral (Maxi) acaba muitas vezes por fugir para o centro, quando avança no terreno, uma vez que o extremo direito de eleição da equipa é o argentino Salvio, que Jesus gosta de vê-lo encostado na linha. Do lado oposto, o lateral esquerdo (Eliseu) é o jogador que dá mais verticalidade ao flanco, enquanto que o extremo esquerdo de eleição de Jesus é o Gaitán, pois procura os espaços interiores. Em suma, regra geral, na direita, o lateral projecta-se transversalmente e o extremo cria o desequilíbrio longitudinal, enquanto na esquerda, o lateral projecta-se longitudinalmente e o extremo cria o desequilíbrio transversal. Dessa forma Jesus tenta equilibrar e dar dinamismo ao ao 4-4-2 e as possíveis desvantagens numéricas no centro do terreno. Ou seja, o sistema 4-4-2 serve apenas para "inglês ver"!

Até aqui não parece haver problema nenhum. O problema acontece porque são os jogadores, com as suas características, que fazem os sistemas. Ou seja, o sistema acima resulta por causa das características dos laterais Eliseu e Maxi, mas também de Salvio e Nico. Mas, o que acontece quando eles não estão disponíveis? Acontece o que aconteceu em Braga e na Luz, por exemplo. Olhando para o jogo de 5ª feira, André Almeida, não deu a projecção vertical que a equipa precisava e o Ola John na direita (e na esquerda) tenta sempre fugir para o centro do terreno, quando o que a equipa precisava era de alguém que atacasse o espaço nas alas. Olhando em detalhe para o 2º golo dos arsenalistas, ele nasce de uma procurar de linha de passe na ala esquerda, por parte de Pizzi. Este é desarmado, porque não houve dinâmica para criar linhas de passe, por parte dos seus colegas de equipa naquela zona do terreno. Com dificuldade para quebrar mais linhas, o português foi desarmado e desse desarme resultou a transição ofensiva do Sporting de Braga. Este lance é um de muitos exemplos recorrentes esta temporada.


As soluções
A primeira solução que Jesus deve explorar é manter a estrutura desse sistema de pares nas alas, utilizando os melhores jogadores para isso. Assim sendo, para opções na lateral direita, isto significaria utilizar o Maxi Pereira e o André Almeida (assim como o Sílvio). Mais à frente, o Salvio e o Tiago são os jogadores com o melhor perfil para interpretarem a função de extremo puro. No flanco esquerdo, Eliseu e Benito são os laterais esquerdos que dão profundidade ao flanco. Por conseguinte, Nico Gaitán e o Ola John (assim como o Sulejmani), são os que melhor interpretam a posição de "falso" extremo esquerdo. Contudo, com as lesões de Salvio e de Eliseu, Jesus teria que optar pelos respectivos substitutos: Tiago e Benito. O problema é que estes dois ainda não estão suficientemente preparados para tais exigências. Isso obriga a procurar uma segunda solução.

Solução para a estratégia da dinâmica nas alas, para
melhoria do controlo de jogo e da posse de bola.
A segunda solução que proponho é uma solução que já foi aplicada na Luz, na época em que Nolito e Bruno César eram os extremos. É uma solução muito semelhante à adoptada por Atlético Madrid e Real Madrid. Nessa solução, ambos os laterais, projectam-se longitudinalmente sobre o campo. São eles que dão profundidade aos flancos com as suas subidas. Por seu turno, as alas ofensivas são entregues a "falsos" extremos que tendem a preencher os espaços interiores. Salientar, que estes são os maiores organizadores de jogo ofensivo das respectivas equipas. São estes os elementos mais criativos em campo, juntamente com um dos médios centro. Desta forma, Maxi e André Almeida, poderão desempenhar bem essa função de lateral direito ofensivo tradicional. O mesmo sucede com o Sílvio quando este recuperar fisicamente. Na lateral esquerda, significa que o Loris Benito terá que jogar mais vezes, pelo menos até o Eliseu recuperar. Caso contrário, será bem pensado o Benfica ir ao mercado de inverno contratar um lateral esquerdo em forma e com essas características ofensivas - sugiro o Raphäel Guerreiro. O facto de não termos no plantel um extremo esquerdo puro - Gaitán, é o único que ainda desenrasca nessa posição, embora prefira jogar de forma diferente - desequilibra o flanco esquerdo quando não temos um lateral esquerdo ofensivo tradicional. Nas alas ofensivas, com a lesão de Salvio, perdemos o nosso extremo direito mais puro - por acaso gostava que o Jesus permitisse mais vezes trocas posicionais do camisola 18 com o extremo oposto, para ver se ele evoluísse o seu jogo colectivo. Tiago e Ola John, embora destros preferem jogar sobre o flanco esquerdo e como "falsos" extremos. Mesmo assim, o Tiago é destes dois o que melhor se adapta ao estilo de jogo do Salvio no actual sistema, conforme mencionei. Assim sendo, estes dois seriam a solução para a ala esquerda, enquanto que o N1c0 e o Sulejmani seriam as soluções indicadas para o flanco direito. O problema imposto pelas alas ficaria assim resolvido.

No centro do terreno, as lesões de Luisão e de Enzo têm como solução as entradas de César e de Pizzi. Mas, para a posição do Enzo, para além de Pizzi, o técnico encarnado também poderá adaptar o brasileiro Talisca, tentando fazer deste uma espécie de Yaya Touré da equipa encarnada. A questão é que o brasileiro ainda não possui a capacidade física para tal... mas, isso é outra história. De salientar que estes reposicionamentos acabarão por ajudar a equipa a ter maior controlo do jogo nos vários momentos de jogo. Primeiro, em termos de recuperação da bola, o hexágono feito pela dupla de avançados, os dois "falsos" extremos e os dois médio-centro, permite criar uma zona de pressão na primeira fase de construção de jogo do adversário muito boa. Recordar que a maioria das equipas, hoje em dia saem em posse através do recuo do médio defensivo para o meio dos centrais. Ora criando um envelope que retire linhas de passe a esse jogador a pressão e a recuperação da posse de bola é muito mais eficaz. Segundo, mantendo um nível de compactação elevado, não só ajudará à equipa como também após a recuperação a equipa conseguirá melhor circulação de bola na zona intermédia. Não tendo extremos puros, os 4 do meio-campo permanecerão melhor colocados para oferecer linhas de passe. A profundidade poderá ser dada de várias formas: através do lateral ofensivo (preferível), através de um avançado móvel que procure o espaço vazio, através de um extremo que ataque o espaço ou através de um dos médios que procure esse espaço.

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