08 novembro 2015

Um modelo a seguir

 

As boa ideias que poderíamos adoptar do modelo de jogo de Pep Guardiola no Bayern de Munique.

Ao ver o jogo da jornada da Liga de Campeões da quarta-feira passada, que opôs o colosso germânico - Bayern Munique - ao gigante londrino - Arsenal - não pude deixar de ficar encantado pela supremacia do modelo do jogo da equipa de Pep Guardiola.

Desengane-se o leitor que o modelo de jogo do Bayern é o mesmo que existia em Barcelona. Não o é inteiramente, porque os jogadores não são os mesmos e têm características distintas. Claramente o espanhol não é um técnico de sistemas, mas sim um técnico de princípios. Esses sim, mantêm-se desde os tempos do Barcelona, e talvez por ser fiel a eles, é que mesmo ganhando 5 a 1 à equipa de Arsène Wenger, tenha proferido os seguintes comentários no final do jogo:

«Precisávamos de circular melhor a bola contra o Arsenal. Temos que melhorar isso. Foi um desastre no segundo tempo, e é por isso que ainda não estamos prontos para ganhar a Liga dos Campeões. Nós só jogámos muito bem durante 35 minutos e isso não é suficiente para atingir as meias-finais da Liga dos Campeões. Nós temos que controlar muito melhor a posse de bola e permitir menos contra-ataques. Aconteceu o mesmo contra o Wolfsburg, por 3-0, em que fomos muito descuidados.»
por Pep Guardiola

Por aqui dá para perceber o nível de exigência que ele tem com a equipa, mas também dá para perceber que se tivesse num Benfica iria colocar as mãos na cabeça e perguntar para o ar, como é que era possível e por onde poderia começar. Sinceramente, eu já me contentava com o nível de circulação da bola, o controlo da posse da mesma e o número de contra-ataques permitidos da equipa bávara. Estou certo que com esse nível o Benfica poderia ter muito melhores performances, tanto a nível nacional como internacional.

Semelhança de sistemas de jogo
entre Benfica e Bayern Munique.
Na realidade, penso que é mesmo possível adoptar as boas ideias e princípios de jogo do Bayern de Guardiola no Benfica de Rui Vitória. Em primeiro lugar, há uma clara semelhança nos sistemas de jogo, pois ambas as equipas partilham o 4-4-2. Depois, se olharmos para as características futebolísticas dos atletas de uma e outra equipa, ou pelo menos dos melhores de cada uma, verificamos que os pontos fortes são basicamente os mesmos, isto tendo em conta o desnível de qualidade que existe nas duas equipas. Por exemplo, os melhores jogadores do Bayern de Munique no presente momento são Douglas Costa e Thomas Müller. Os equivalentes do plantel encarnado são o Gaitán e o Jonas, respectivamente. É verdade que não temos jogadores como Alaba, Lahm, Boateng, Thiago, Lewandowski, entre outros, mas estou certo que jogadores como Eliseu, Sílvio, Jardel, Samaris, Jiménez, entre outros do Benfica, poderiam apresentarem-se muito melhor adoptando as tais boas ideias e princípios de jogo. Partilhar o mesmo sistema de jogo não basta!

A ideia principal por detrás de "circular melhor a bola", "controlar melhor a posse de bola" e "evitar contra-ataques adversários", passa muito pela manutenção em todas os momentos de jogo de uma forma compacta. Por outras palavras, mais que perder a estrutura, não deve perder a sua forma compacta. O que é isso? É manter as distâncias entre sectores, linhas e jogadores a um nível reduzido, sobretudo na zona onde está a bola. É importante esta última menção, porque por aqui subentende-se outro princípio muito importante - a vantagem numérica local. Por outro lado, esta definição também acautela a necessidade de muitas vezes termos de ter um jogador mais isolado e mais distante, para poder esticar o jogo. Normalmente esse jogador apresenta-se dessa forma numa zona oposta àquela em que a bola se encontra.

Sendo assim, para manter a forma compacta, sobretudo numa equipa cujos adversários estarão constantemente na defesa, significa que o nosso posicionamento defensivo atrás da linha de meio-campo, deixa de fazer sentido. Olhando para as Animações do jogo do Bayern de Munique contra o Arsenal, verificamos exactamente isso, com a colocação da dupla Boateng e Martinez dentro do meio-campo do Arsenal. Parece de loucos, mas na verdade é esse posicionamento que não só evita muitos mais contra-ataques perigosos do adversário, como também permite mais linhas de passe entre os jogadores e por conseguinte, maior circulação e controlo da posse de bola da equipa. Penso que com estas alterações, o Benfica poderia conseguir um valor muito mais elevado de passes do que tem actualmente.

Estatísticas de equipa no último jogo da Liga dos Campeões
do Benfica (frente ao Galatasaray) e do Bayern de Munique
(frente ao Arsenal).
É importante salientar a importância do passe no futebol moderno e no futebol de alta competição. É com o passe que mais facilmente se quebram linhas de pressão. É com o passe que mais facilmente se consegue rasgar zonas defensivas. É com o passe que mais facilmente se percorre grandes distâncias do campo de jogo com o menor esforço físico. É com o passe que se consegue respirar durante o jogo. É com o passe que se controla os ritmos de jogo. Portanto, é fulcral que a equipa encarnada tenha de absorver rapidamente este princípio básico do bom futebol. Reparem nas estatísticas de passe do Benfica e do Bayern no quadro ao lado. Uns fazem cerca de 585 (Benfica), já outros fazem 797 (Bayern Munique) passes em média por jogo, na Liga dos Campeões. São mais de 200 passes de diferença. Por isso é que o Benfica só consegue correr cerca de 107km em média por jogo, como equipa, enquanto o Bayern Munique consegue 114km em média por jogo (soma dos quilómetros que os jogadores da equipa fazem por jogo). Ou seja, estamos a falar de quase mais 1km de diferença em cada jogador. Isso só é possível dado à maior frescura física que a cultura de passe possibilita durante os 90 minutos de jogo.

Estatísticas de passe nos últimos encontros do Benfica (frente ao Galatasaray) e do
Bayern Munique (frente ao Arsenal). Notar na diferença de valores entre os dois
melhores jogadores de uma e doutra equipa (Gaitán, Jonas, Douglas Costa e Müller).

Por outro lado, quando olhamos para a percentagem de acerto de passes de uma e doutra equipa, e já descontando o desnível de qualidade dos jogadores, verificamos que os piores jogadores do Benfica no capitulo do passe são os nossos extremos. Por exemplo, Gaitán tem 67% de acerto. Na minha óptica tal deve-se ao posicionamento dos mesmos em campo. Jogando como extremos clássicos, ou seja, com o melhor pé do lado da linha lateral, não permite a estes jogadores ter as melhores recepções e passes para os colegas. Contudo, olhando para o modelo do Bayern, verificamos que Douglas Costa tem uma percentagem de 91% de acerto no passe. A diferença é enorme e para isso muito conta o facto do internacional brasileiro jogar como falso extremo, i.e., com o melhor pé do lado contrário ao da linha lateral. Desta forma, o jogador consegue procurar melhor o jogo interior e efectuar passes de melhor qualidade e mais acertados. Por tudo isto, era importante Rui Vitória adoptar este tipo de posicionamento de falso extremo.

Verdade seja dita, já temos visto muitos destes comportamentos a serem aplicados nos últimos jogos dos encarnados, como por exemplo, frente ao Galatasaray. No entanto, penso que tem de ser muito mais trabalhado e dar muito mais continuidade.

4 comentários:

  1. Eu já não digo o Benfica jogar como o Bayern, pois é demasiada areia para a nossa camioneta, para mim bastava jogar como a Fiorentina de Paulo Sousa, já era bem bom, a evolução era tremenda, agora como estamos a jogar é que não, é mau demais para ser verdade... e já agora, atenção à 2ªLiga, o Benfica B já só está 3 pontos acima da linha de água, já vi este filme acontecer no Real Madrid e afins... cuidado Benfica, muito cuidado, o Benfica está muito desorganizado e não tem fio de jogo em ambas as equipas de futebol profissional.
    Abraço companheiro.

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    1. Boas Papoila!

      A Fiorentina do Paulo Sousa, joga com os mesmos princípios de jogo que o Bayern do Guardiola. O sistema de jogo é diferente, mas aquela constante troca de bola, ao invés de transportar constantemente a bola em correrias, é imagem de marca do modelo de jogo do Guardiola.

      Tacticamente, os movimentos dos nossos jogadores estão correctos. Haverá um ou outra correcção (por exemplo, acho que a nossa defesa poderia e deveria estar ainda mais em cima), mas regra geral os movimentos estão a ser bem feitos. O que não está a ser bem feito é a tomada de decisão. E, não estou apenas a falar da tomada de decisão no último terço do terreno. Samaris, Talisca, Sílvio, Eliseu e muitas vezes os nossos dois centrais, tem más decisões. Ora porque não soltam a bola no momento certo, ora porque transportam muito a bola, ora porque passam a colegas em má posição, ora porque falham passes aparentemente simples.

      Em suma, a receita do sucesso é passar, passar... e passar muito bem!

      Quanto à equipa B, é normal que este ano estejam mais em baixo. Há menos elementos experientes na equipa B. Fosse eu o Rui Vitória e hoje, das duas uma, ou o Renato Sanches entraria e fazia no mínimo 15 a 30 minutos, ou então teria ficado com a equipa B. E, se a opção fosse por ficar na equipa A, então quem iria para a equipa B era o Taarabt e até mesmo o Djuricic.

      Abraço

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  2. artigo educativo, coisa rara na blogosfera.

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