20 abril 2016

Faltou uma pontinha de...


Mas, não só...

A linha que separa o saber jogar da "sorte"
para Jorge Jesus.
Confesso que aproveitei a espécie de "mind game" (da treta) que o Jorge Jesus fez a propósito do momento do Benfica, em particular na Liga dos Campeões, para dar corpo ao título deste artigo. Ao contrário do que o técnico leonino referia, o que tem realmente faltado ao Benfica esta temporada é sorte! Sorte nas lesões dos seus principais jogadores... Sorte nos sorteios das grandes competições... Sorte na forma como a comunicação social nos trata... Sorte nas arbitragens dos nossos jogos (e dos outros)... E isto para não falar da sorte nos jogos em que jogamos mais que o adversário, mas por um ou outro motivo a bola não quer entrar... não é verdade Porto?! Há pois, uma linha - é engraçado falar em linhas (de fora-de-jogo), não é verdade Sporting?! - que separa o que representa ter sorte ao jogo com a procura para ter essa mesma sorte. E, é essa a diferença que muitos tendem em não querer entender, ou pelo menos a fazer o seu papel de caixa de ressonância de ruído, para camuflar erros próprios... não é verdade Jesus?! Mas, siga!

Grande demonstração de classe dentro e fora de campo
destes dois treinadores de topo:
Pep Guardiola e Rui Vitória.
Conforme escrevia acima, a sorte procura-se e um bom exemplo disso é a "masterclass" em estratégia e táctica que assistimos entre Guardiola e Vitória em plena Luz na passada quarta-feira. O técnico catalão exemplificou que mais do que sistemas tácticos, o que interessa são os princípios de jogo e a forma como os seus jogadores conseguem interpretar bem essas indicações no plano de jogo. Só assim é que se consegue ter médios a jogar como centrais, laterais a jogar como interiores, médios-centro a jogarem como avançados finalizadores, extremos a jogarem como "dezes" e avançados a jogarem como médios de recuperação. Por exemplo, após o jogo de Munique, Pep percebeu que o posicionamento dos seus extremos não foi o melhor nesse encontro e corrigiu-o conforme verificámos na Luz. Tanto Douglas Costa como Frank Ribery estiveram muito mais em jogo. Mas, atenção, não foi apenas por essa melhoria de posicionamento. Outra lição que aprendeu no jogo na Baviera, foi da redundância que Lewandowski apresentou nesse encontro em termos ofensivos. Por outras palavras, estar lá ou não, pouca ou nenhuma diferença fazia. Aliás, a equipa sentiu falta de elementos a meio-campo nesse encontro para controlar melhor o jogo. Sendo assim, meteu-o no banco e lançou o Xabi Alonso a médio-defensivo, que para Pep, é o mesmo que um "quarterback" do futebol americano, criando jogo a partir de trás e com passes médios e longos, à procura dos extremos do lado contrário, em variações de jogo muito céleres. Enfim, uma estratégia já muito vista por parte do Bayern de Guardiola ao longo da sua estadia germânica.

Foi para isto que Guardiola colocou mais um elemento no
meio-campo bávaro: anular o "puto-maravilha".
Com esta estratégia o técnico catalão procurava não só anular a vantagem numérica do meio-campo encarnado - já de si reforçado (teoricamente...) com a incorporação de Pizzi à frente de Renato Sanches e Fejsa, neste encontro, também devido à indisponibilidade de Jonas - controlando o jogo nessa zona do terreno. Impedindo, também, as transições rápidas do Benfica, maioritariamente do Sanches, mas sobretudo com o intuito de melhorar a performance ofensiva do Bayern. Como melhorar a performance ofensiva tirando um avançado? Muitos perguntarão isso mesmo. Pois bem, ao colocar mais um médio-centro, o Bayern acaba por igualar a nível numérico as unidades do meio-campo e fazendo uso da sua melhor qualidade dos princípios de jogo, poderão sobrepor-se à possível maior qualidade técnica encarnada (se tal fosse realmente verdade, pois Xabi Alonso, Vidal e Thiago são exímios tecnicamente falando), mas a potência física do nosso meio-campo é actualmente superior ao do Bayern (Vidal é talvez o único jogador com potência física equiparável ao do meio-campo encarnado). Não é à toa que apesar de erros do nosso meio-campo em Munique, demos água pela barba aos alemães.

Do lado de Rui Vitória, como já referi acima, a ausência de Jonas - e depois também as ausências de Mitroglou e de Gaitán - fizeram com que tivesse de mexer muito mais do que estaria à espera no onze. Para os seus lugares entraram o  Salvio, o Carcela e o Raúl. Tacticamente, pelo que foi dado a entender em campo, mantivemos o sistema de jogo do 4-4-2, apesar de Pizzi não ser Jonas, jogando como 2º avançado. Assim sendo, na maioria do tempo, o nosso meio-campo não foi composto por 3 elementos, como seria suposto, ao olharmos para a constituição da equipa. Ou seja, olhando para o onze titular, levaria a pensar que iríamos jogar em 4-2-3-1 e não foi isso que aconteceu. Por outro lado, também não foi um 4-4-2 porque Pizzi teve dificuldades de fazer de Jonas, ainda por cima num jogo onde o Benfica teve pouca posse de bola.

A ideia de Rui Vitória era ter alguém que acompanhasse o Raúl e quando tivesse a bola soubesse reter-la e decidir bem. Visto dessa perspectiva o nome de Pizzi assentava que nem uma luva. Contudo, este ter bola estava muito dependente do que Fejsa e Sanches conseguiam fazer mais a trás, no meio-campo. Ora, se o sérvio continuava a meter os médios alemães no bolso (pelo menos, os que apareciam no seu raio de acção), já o miúdo Renato Sanches, nem por isso. Foi uma espécie de deja vu da sua exibição em Munique, para lamento meu que estava motivado para uma exibição muito mais madura do miúdo. Sempre que era para sair para o ataque, rapidamente perdia a bola com passes errados ou com tentativas de drible. Se têm dúvidas, vejam as estatísticas por exemplo do Renato comparadas com a de Thiago Alcântara que joga na mesma posição na equipa alemã. Em 24 passes que fez todo o encontro, o Sanches concluiu apenas 17 (taxa de sucesso de  71%). Já o seu homólogo "alemão", dos 71 passes concluiu 64, o que corresponde a uma taxa de sucesso de 90%. Em termos ofensivos, percebe-se o porquê de Rui Vitória querer o Renato em campo: a sua capacidade de drible. Contudo, o rapaz exagera. Foi o jogador que mais tentativas de drible fez em campo do lado do Benfica: 7 dribles. Por exemplo, o Thiago fez "apenas" 4, deixando essas despesas para os seus colegas que jogam na ala, como o Douglas Costa (6) e o Ribery (8). Enquanto, que o Salvio (5) e o Carcela (5) tendo menos bola devido às perdas atrás, tinham menos oportunidades de driblar o adversário.

Renato Sanches bem que pode aprender com a
inteligência táctica de Thiago Alcântara.
Mas, mesmo perdendo muitas bolas, poderíamos fechar um pouco os olhos a isso, se a performance defensiva do miúdo fosse esplêndida de tal forma que anulasse o seu comportamento ofensivo. Os dados estatísticos dizem que tal não sucedeu. Enquanto, o Thiago conseguia fazer 7 tentativas de corte, o Renato só conseguiu fazer 3. Mais, tendo em conta as perdas de bola do Renato (4) - que claramente foi o jogador encarnado mais destacado neste capítulo - e comparando com as 2 perdas de bola do Thiago na mesma zona do terreno, dá para entender o porquê do Fejsa ter menos recuperações de bola que o Xabi Alonso. É que o sérvio ficou quase sempre em situações de desvantagem numérica de 2 contra 1, enquanto que a dupla germânica manteve-se quase sempre. Sendo assim, foi com naturalidade que o golo encarnado a acontecer no jogo, a bola não poderia passar pelo Renato ou até mesmo o Pizzi. E, foi isso que aconteceu, tanto no primeiro golo (grande exibição do Raúl Jiménez) como no segundo (livre do Talisca, após grande lance de contra-ataque do Gonçalo Guedes). Por outro lado, em termos defensivos, a falta de cultura táctica do Renato foi bem patente no golo do Vidal. É pois o custo da evolução em altíssima competição de um miúdo de 18 anos. Todos estes dados estatísticos podem ser consultados aqui.

Fejsa e Samaris pode não ser uma dupla mais
espectacular que o sérvio e o miúdo,
mas é certamente mais coesa a nível defensivo.
A ideia que fico é que mesmo querendo apostar-se no miúdo, poderia ter-se tido outro tipo de cautelas. Por exemplo, porque é que não se deu uma função ao Pizzi mais de meio-campo e não tanto de 2º avançado, tentando assim, evitar que o Renato ficasse tão distante do camisola 21 e fosse este a lançar o ataque, fazendo uso de jogadores mais objectivos como o Carcela e o Salvio? E, porque não fazer entrar Samaris - que é um jogador que tem potencial físico, mas que não arrisca tanto no drible, procuraria o passe mais assertivo - para o lugar do Sanches, obrigando o Pizzi a vir buscar jogo mais a meio-campo? Ou então, porque não lançar o Samaris, avançando o Renato para a posição atrás do ponta-de-lança e o Pizzi manter-se na direita como vinha sendo hábito?

Para além da equipa encarnada, também o público
da Luz merece os parabéns pela fantástica noite europeia.
Pessoalmente, fico com a sensação que o golo do Bayern com o Samaris em campo naquela posição ao lado do Fejsa, não teria acontecido, pois o grego tacticamente é mais culto e cumpridor. Depois em termos ofensivos, como o Renato não interferiu drasticamente nas jogadas, penso que poderíamos esperar a mesma performance ofensiva da equipa, o que francamente não foi nada má, tendo em conta os recursos à disposição. De qualquer maneira, estão todos de parabéns, incluindo o Renato Sanches que viu-se claramente que deu tudo o que poderia dar. Espero que ele reveja os dois jogos e aprenda com eles. Ele com 18 aninhos já anda nestas lides e já dá trabalho aos adversários (reparar que o Pep Guardiola teve que colocar 3 médios para os 2 que acabámos por ter nessa zona, na prática). Nem quero imaginar quando ele tiver mais um ou dois anos de experiência e cultura táctica.


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