16 abril 2016

Parabéns Rui!




Não apenas pelas tuas 46 primaveras, mas também por tudo o que tens construído no Benfica. Os últimos 6 a 9 meses não tem sido nenhum passeio, mas tu tens demonstrado por mais do que uma vez que é com trabalho, serenidade, confiança, qualidade e muita, mas mesmo muita, classe que se podem ultrapassar as maiores adversidades. Tens sido um exemplo, para todos! Não apenas pelo discurso, mas também pelas tuas atitudes.

E, dou-te ainda maior mérito porque não é fácil quando tudo (ou quase tudo) está contra ti. Primeiro, era o fantasma do antigo treinador. Segundo, era o teu semblante rochuchudo. Terceiro, era porque bebias muita água. Quarto, era porque a equipa não defendia bem. Quinto, era porque dizias trivialidades como "é o processo". Sexto, é porque era altura de chouriçadas. Sétimo, é porque faltava nota artística à equipa. E, poderia enumerar outras tantas críticas que ouvimos durante todo este tempo... olha, como a de não ganharmos aos outros ditos grandes... Enfim! Olha, sabes que mais, a toda essa gente declamava o seguinte poema:


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
 
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos) 


Eu que há muito deixei de julgar as pessoas apenas pelas primeiras impressões, há muito que me interessei pela tua forma de estar e resolver os problemas que a equipa ia tendo ao longo desta temporada. Vi melhorias e vi esse processo a tomar forma. Verdade que também fui fazendo críticas, mas muito longe daquelas que botavam-abaixo. Para além disso, tu sabes bem que ser treinador também é um processo iterativo, para além de haver muito empirismo associado. Como tal, é normal que no teu processo possas ter chegado a conclusões idênticas a outros que provavelmente teriam iniciado o processo com a solução que chegaste. Mas, isso também faz parte do processo. Do processo de conhecer bem os jogadores e suas capacidades. Do processo de desenvolvimento de metodologia de treino mais receptiva para o seu grupo de trabalho. Do processo de adaptação a um outro contexto desportivo.

Numa sociedade de imagem, de consumo rápido e de "semideuses" mestres em tudo e mais alguma coisa, é normal que uma pessoa de trabalho possa não serem vistas da melhor forma. Mas, tal como na história da cigarra e da formiga, é esta última que no final sorri. O mesmo acontece contigo. Não é à toa que acabaste por, com uma equipa encarnada feita maioritariamente por segundas e terceiras escolhas relativamente ao planeamento do início da temporada no que respeita aos principais titulares, chegar ao primeiro lugar do campeonato em casa do adversário que nos colocou tanta pressão dentro e, sobretudo, fora de campo. E, isto para não falar dos rasgados elogios que te foram endereçados pelo actual melhor treinador do mundo Pep Guardiola, ao retratar os encarnados como uma "super equipa". É sempre bom receber elogios dos seus homólogos, i.e., de treinadores de primeiro nível. Mas, talvez o melhor mesmo é receber o carinho e o apoio de todos nós...





P.S.: Bem... talvez os calduços sejam demasiados... =D

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